Cristianismo e Islamismo - perspectivas imediatas (parte V)

          ATENÇÃO: Esta é uma série de estudos, por isso sugerimos que leiam esta série sequencialmente para que acompanhem o desenvolvimento do raciocínio que pretendemos levar aos nossos leitores. Você encontrará os links desta série ao final deste texto. Obrigado

     Nesta quinta parte de nossa série de estudos, procuraremos conhecer o islamismo do século XXI, as causas de suas divisões, as correntes fundamentalistas, os reformistas, os radicais e a forma como estas correntes vêem e se relacionam com o mundo e os não-muçulmanos.
        Para que tenhamos uma visão concisa da história do islamismo será necessário contemporizar os seus acontecimentos com a história geral da humanidade, pois isso facilitará a compreensão do islã dos dias atuais. Nos estudos anteriores pudemos conhecer o início das pregações de Maomé, as guerras que teve de travar com os povos politeístas que o perseguia e a seus seguidores e neste estudo entendemos como necessário conhecermos um pouco melhor de sua vida pessoal, porque o pensamento e o proceder de um líder impacta diretamente na conduta de seus discípulos.



     Vamos agora conhecer um pouco da família de Maomé: segundo fontes islâmicas, o profeta do Alcorão teve onze esposas com as quais contraiu matrimônio, três com as quais não se casou e duas concubinas, sendo uma delas Maria, uma cristã copta egípcia, mas de todas estas mulheres, a sua preferida foi Aisha. Embora Maomé aconselhasse aos homens que tivessem no máximo quatro mulheres, desde que pudessem sustentá-las de forma equitativa, conforme relata o terceiro versículo da quarta Surata chamada An Nissá النساء و (As Mulheres) e tendo ele próprio tido dezesseis, os muçulmanos explicam este fato como um privilégio exclusivo para o profeta, conforme escrito na trigésima terceira Surata denominada Al Ahzáb الأطراف و (Os Partidos) nos versículos 52 e 53, onde diz: "52 - Ó Profeta, em verdade, tornamos lícitas para ti, as esposas que tenhas dotado, assim como as que a tua mão direita tenha possuído (cativas), que Deus tenha feito cair em suas mãos, as filhas dos teus tios e tias paternas, as filhas dos teus tios e tias maternas, que migraram contigo, bem como toda a mulher fiel que se dedicar ao Profeta, por gosto, e uma vez que o Profeta queira desposá-la; este é um privilégio exclusivo teu, vedado aos demais fiéis. Bem sabemos o que lhes impusemos (aos demais), em relação às suas esposas e às que suas mãos direita possuem, a fim de que não haja inconveniente algum para ti. E Deus é Indulgente. Misericordioso. 53 - Podes abandonar dentre elas, as que desejares e tomar as que te agradarem; e se desejares tomar de novo a qualquer delas que tiveres abandonado, não terás culpa alguma. Esse proceder será sensato para que se refresquem seus olhos; não se aflijam e se satisfaçam com o que tiveres concedido a todas, pois Deus sabe o que encerram os vossos corações; e Deus é Tolerante, Sapientíssimo."
     Como dissemos em estudo anterior desta série, existem diferenças culturais e teológicas bem grandes entre o cristianismo e o islamismo, embora os muçulmanos acreditarem adorar ao mesmo Deus cristão e judeu. Aproveito o ensejo para também explicar sobre a questão do nome Alá الله, usado pelos muçulmanos para designar o Deus onisciente, onipotente e onipresente, criador de toda a existência: a tradução literal da palavra Deus é Alá, os próprios cristãos árabes usam a palavra Alá para designar o nosso Deus; é também verdade que nós próprios, raramente usamos o nome Jeová ou Javé, para designar Deus, comumente usamos a própria palavra Deus, sempre iniciando com letra maiúscula para diferenciar dos deuses pagãos. Bem sabemos que grandes homens usados por Deus, como Davi, Sansão, Salomão e o próprio Abraão tiveram mais de uma mulher e isso é deixado bem claro na Bíblia e não havia qualquer repreensão da parte de Deus para este fato, contudo Jesus veio para além de cumprir a Lei, iniciar o tempo da graça; Ele elevou a mulher a um patamar superior de dignidade, Ele a viu como um indivíduo tão carente de afeto, respeito, honra e dignidade como o homem, por isso suas recomendações com relação ao matrimônio tanto para o homem como para a mulher é que não haveria qualquer permissão para sua dissolução, a não ser por motivo de adultério, de ambas as partes; portanto existe uma grande diferença na visão do matrimônio entre os cristãos e os muçulmanos: Maomé pode até ter crido que Jesus era o Messias, porém ele desfez o que Jesus construiu neste aspecto. A compreensão da relação familiar muçulmana é então, fundamental para que possamos conhecer melhor a mundivisão islâmica, uma vez que os principais valores que o homem herda na vida são construídos na família.


O cristianismo não admite a poligamia

       Maomé pertencia ao clã dos Hachemitas, sendo estes integrados à Tribo dos Coraixitas, que eram descendentes de Ismael e os guardiães da Caaba, a pedra negra onde atualmente os muçulmanos fazem a peregrinação do Hajj, mas que antes era objeto sagrado de diversas tribos politeístas, incluindo os Coraixitas.   Tão logo Maomé faleceu surgiram as duas grandes vertentes islâmicas, que são os sunitas e os xiitas; não havia um testamento ou outro documento elaborado por ele designando um sucessor após sua morte, desta maneira houve um impasse entre Abu Bakr, sogro e um dos primeiros discípulos maometanos, que reivindicou para si a liderança da Umma (a comunidade islâmica), sendo ele o primeiro a usar o título de Califa, que significa líder da comunidade islâmica e de outro lado Ali Abu Talib, primo adotado e educado pelo profeta e casado com sua filha Fátima, que inicialmente declinou da sucessão a favor de Abu Bakr.



Maomé e os quatro primeiros califas

           Iniciou-se então uma discussão sobre o direito de sucessão à liderança mais alta do islã, quando os seguidores de Ali começaram a argumentar que a sucessão deveria se dar por pessoas da linhagem de Maomé, neste caso o próprio Ali, estes deram origem ao clã xiita, que até hoje defendem que os califas, cargos que foram extintos e substituídos pelos imãs, devam ser descendentes ou ter grau de parentesco com sua linhagem. Os xiitas seguem apenas o Alcorão como regra de fé a atualmente representam cerca de quinze por cento dos muçulmanos no mundo.

     Os sunitas se originaram dos primeiros muçulmanos que elegeram e seguiram Abu Bakr e utilizam além do Alcorão a Sunna (caminho trilhado), que é uma coleção de escritos (Hadith) dos companheiros e colaboradores de Maomé e que é o modo como ele praticava, pregava e aprovava tudo à luz do Alcorão. Os sunitas se caracterizam por serem mais moderados que os xiitas e atualmente representam cerca de 85 por centos dos muçulmanos. Existem outros grupos islâmicos como os carijiitas e ismaelitas, entre outros menores.
        No islamismo dos califados não existia separação entre a política e a religião, ou seja, os califas eram os chefes religiosos e políticos de uma determinada região ou país. Os califados foram extintos em 1924 quando a Turquia extinguiu o Império Otomano, que dominava sobre todos os demais califados. A idealidade da teocracia proposta no Alcorão não resistiu à realidade dos grandes interesses econômicos, geopolíticos e colonialistas que influenciam e dominam as relações entre os povos, desta forma começou a surgir em meados do século XIX no Egito um movimento chamado Salafismo, que visava uma maior integração dos califados islâmicos com o mundo cristão ocidental, preservando suas características próprias e adaptando a modernização obtida nos países europeus à sua forma de governar, evitando assim uma ocidentalização do islã.


Mustafá Kemal Atatürk

         O evento da primeira guerra mundial (1914-1918) precipitou a reforma proposta pelos salafistas e com o fim do Império Otomano e a ascensão de Mustafá Kemal Atatürk, um experiente oficial do Império Otomano, como fundador da República da Turquia, sendo seu primeiro presidente, diversas reformas levadas a cabo pela sua influência, acabaram por criar os direitos civis, quase ausentes nos califados, por abrir o país à cultura ocidental, pela desobrigação do uso do véu pelas mulheres, pelo uso do alfabeto turco e da tradução do alcorão para o idioma turco, entre outras, o que fez com que a atual Turquia continuasse como o país mais influente entre as nações islâmicas.

        As reformas ocorridas na Turquia influenciaram outras nações árabes mas também provocaram vigorosos ataques pelas alas mais radicais do islã, como os xiitas e carijiitas e assim as divergências que já existiam desde o início do islã passaram a ter dimensões mundiais e este ambiente de idéias tão acirradas propiciou o surgimento de ideologias mártires, que visam proteger a pureza do islã e lutar pela sua propagação por todo o mundo; estas idéias são a origem da radicalidade e fundamentalismo de alguns grupos que desde então passaram a emergir nestes países, propondo uma Guerra Santa جهاد (Jihad) contra aqueles que segundo os radicais são inimigos do Islã, notadamente os Estados Unidos e Israel. 
           A jihad é citada cerca de duzentas vezes no Alcorão como um esforço pessoal pela propagação da fé islâmica e em alguns livros que compõem a Sunna, Maomé explica o que é a Jihad, como no livro Sunan ibn Majah 2974) onde ele diz:  "A melhor Jihad é a de um homem cujo sangue é derramado e o seu cavalo é ferido" e no livro de Sahih Muslim 2:4696 onde diz: "Aquele que morreu mas não lutou no caminho de Alá nem expressou alguma determinação por lutar, morreu como morrem os hipócritas". Obviamente não podemos deixar de interpretar estas palavras em seu sentido figurado, assim como o apóstolo Paulo diz em 2 Timóteo 4:7 ao terminar o seu ministério: "Combati o bom combate, encerrei a carreira e guardei a fé", assim como a descrição do soldado de Cristo em Efésios 6:10-18, porém as palavras de Maomé são pesadas, diferentemente da guerra espiritual demonstradas nestes capítulos da Bíblia, suas palavras ganham um sentido de ganhar territórios e povos para o islão mediante a força, enquanto a bíblia diz que no tempo da graça será o Espírito Santo quem convencerá as pessoas (Zacarias 4:6), portanto também aqui Maomé desfez o que Jesus construiu: Jesus é o renovo prometido, é também o Senhor da Terra, diante de quem estão as duas testemunhas (Apocalipse 11:4). Link: Quem são as duas testemunhas?
          Temos por certo que qualquer missão que não se paute pela sensatez, sinceridade, lógica, razão e sentido não prosperará, por isso mesmo queremos conhecer o pensamento de Maomé e as revelações dadas a ele, para que então tenhamos argumentos eficazes para propormos e cumprirmos a missão das duas testemunhas, afinal, assim como os judeus e os cristãos, também os muçulmanos aguardam o Grande Dia do Senhor, que para os judeus significa a vinda do messias, para os cristãos o retorno de Cristo e para os muçulmanos o reaparecimento do 12º imã, o mahdi (divinamente guiado).


Arte islâmica retratando o Madih

             A profecia do retorno do 12º imã é uma tradição antiga no islã e tanto os sunitas quanto os xiitas acreditam neste fato. O iraniano Mohammad Ebn Ebrahim Attar, em seu livro Taskarat-Ol Olia, publicado em 2009 em Teerã, reaviva esta profecia, segundo a qual o Mahdi será um descendente de Maomé, terá uma testa larga e nariz pontudo, retornará um pouco antes do tempo do fim, sua aparição será precedida de uma série de eventos proféticos, durante três anos de caos, tirania e opressões mundiais, fugirá de Medina a Meca, sendo seguido por milhares de pessoas, reinará sobre os árabes e o mundo por sete anos, erradicará toda tirania e opressão, trazendo ordem e paz, liderará o planeta sendo Jesus o seu primeiro tenente, que negará o cristianismo e mostrará que o islã é o penhor da fidelidade de Deus. Segundo pesquisa realizada pelo Instituto Pew Research de Washington, cerca de dois terços dos muçulmanos acreditam que verão o retorno do madih.
        Para diversos escatologistas cristãos o madih personifica perfeitamente o anticristo. Ninguém com bom senso e que acompanham os fatos que ocorrem nas diversas regiões do planeta pode negar que além dos muçulmanos, também os cristãos e os judeus aguardam o retorno de seus messias para esta geração. Sabemos que o nosso Deus tem em suas mãos o controle de todas as coisas e nada ocorrerá sem Sua permissão. Que o Espírito Santo traga sabedoria e entendimento às lideranças cristãs e porque também não dizer às lideranças judaicas e muçulmanas, para que o amor, a fraternidade e o bom senso prevaleça. Que Deus nos abençoe!

      Por Nelsomar Correa em 25 de outubro de 2014


      Leia a sequência desta nossa série em nosso blog:


Cristianismo e islamismo - perspectivas imediatas (parte I)
Cristianismo e Islamismo - perspectivas imediatas (parte II)
Cristianismo e Islamismo - perspectivas imediatas (parte III)
Cristianismo e Islamismo - perspectivas imediatas (parte IV)


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