Cristianismo e Islamismo - perspectivas imediatas (parte IV)

          ATENÇÃO: Esta é uma série de estudos, por isso sugerimos que leiam esta série sequencialmente para que acompanhem o desenvolvimento do raciocínio que pretendemos levar aos nossos leitores. Você encontrará os links desta série ao final deste texto. Obrigado

           Dando sequência à nossa série de estudos, abordaremos nesta página o tópico terceiro de um conjunto de oito, que trata da necessidade de se conhecer os motivos históricos que influenciaram o surgimento do islamismo.
              Cremos que Deus é soberano e trata a Sua Igreja da forma que melhor lhe aprouver. Quando nos detivemos à leitura do Alcorão, logo percebemos que a missão com a qual Maomé se via imbuído era a de construir um caminho que resgatasse a fé monoteísta, que a seu ver estava sendo corroída com os dogmas agregados à Igreja Cristã por meio dos concílios, como é o caso da doutrina da Santíssima Trindade, sendo que estes dogmas poderiam culminar em descaracterização das próprias Escrituras Bíblicas, dadas aos patriarcas e confirmadas pelos profetas, conduzindo-a a um sistema idêntico ao politeísmo que ele combatia na península arábica, além da não aceitação pelos judeus do messias Jesus, o Cristo.
         Não se pode negar, mediante a leitura do Alcorão, que Maomé era um conhecedor da Septuaginta e da Vulgata Latina, que eram, em sua época, as coletâneas que compunham o velho e o Novo Testamento e em diversas partes do livro sagrado islâmico ele enfatiza que tanto o novo como o velho testamentos possuem origem divina, portanto sua missão era, segundo podemos pressupor, tanto assegurar uma interpretação própria destes livros sagrados como também combater o politeísmo que reinava na Península Arábica. Para Maomé ser muçulmano é se submeter à vontade de Deus, e para tanto, se uma pessoa reconhecer que Alá, que segundo os islâmicos é o mesmo Deus da Bíblia, é o único Deus e que Maomé foi enviado por Ele, então esta pessoa já pode ser considerada um muçulmano, mas necessitará realizar alguns rituais sagrados, para que sua fé seja confirmada.


Deuses do paganismo árabe que Maomé combatia

         A questão que nos move neste tópico da nossa série de estudos sobre o islamismo é então retornarmos ao século V DC e saber o que ocorria com a Igreja Cristã daquele tempo, para que Deus pudesse inspirar ou permitir que uma obra espiritual tão grande como o islamismo surgisse. Neste afã, certamente iremos nos debater com as seguintes questões: a) Quais erros a liderança cristã cometeu desde a morte de Cristo? b) O dogma da Santíssima Trindade realmente eleva Jesus à qualidade do próprio Deus Criador? Que outros dogmas cristãos daquela época poderiam ter motivado a permissão ao surgimento do islã?
           A história nos mostra que a Igreja Cristã crescia rapidamente em número de adeptos, se propagando em todas as direções, principalmente em direção à Europa, que compunha a maior parte do Império Romano, que então dominava praticamente toda a Europa e parte da África e do Oriente Médio, com exceção da Península Arábica, pois para acessá-la por terra havia a necessidade de se transpor uma grande barreira natural, o deserto arábico, ademais, julgaram os romanos que tamanho esforço não valeria a pena e que uma ocupação pelo mar deixaria suas tropas altamente vulneráveis a insurreições.
    Assim como os romanos, nenhum outro império ousou conquistar esta parte do planeta, que por milênios fora ocupada por beduínos sabeus, coraixitas, minoanos e himiaritas, mas que hoje é uma das regiões mais prósperas do planeta. Os impérios otomano no século XIV e inglês por um período de décadas tiveram uma forte influência sobre o comércio e a população local, porém nada que se caracterizasse como uma ocupação militar, mas sim alianças com as famílias poderosas locais, como os Saud, que desde o século XVII, tem se unido aos líderes islâmicos para impedir a configuração de uma dominação e em 20 de maio de 1927, pelo Tratado de Jidah, o Reino Unido reconhece a independência do Reino dos Saud e em 1932 Abdelazize Saud unindo as regiões, cria o Reino da Arábia Saudita, que  a partir do ano de 1938, com a descoberta do petróleo, vem conhecendo um grande ciclo de prosperidade, assim como outras nações desta península, valendo ressaltar que tanto o império otomano como o saudita tinham o islã como religião oficial.
            A compreensão da história nesta região que é o berço do islamismo e de onde o mesmo se propagou rapidamente por todo o planeta é essencial para que possamos entender como o mesmo se fortaleceu e cresceu, enquanto a Igreja cristã, desde o surgimento do islã, em 610 DC, começava a um processo de divisão, que havia se iniciado por ocasião do Concílio de Niceia em 325, quando diversos bispos orientais rejeitavam a influência do Imperador Constantino sobre os assuntos de fé cristã, conforme já citamos em outras postagens deste blog como nestes links: A fé cristã e a fé católica , Aparando as arestas e Ornando a noiva.
                Até o surgimento do islamismo existiram os chamados Concílios Pré-nicenos, que tinham caráter regional, por não contar com a presença de todos os bispos da Igreja e os chamados Concílios Ecumênicos, por que tinham a presença do imperador, que depois foi substituído pelo papa, que passou a ser a ecumene. Os concílios pré-nicenos trataram de assuntos internos da Igreja, enquanto que todos os chamados Concílios Ecumênicos até o surgimento do Islamismo trataram da natureza de Jesus (cristologia). Neste contexto algo que chama a atenção é que os luteranos, anglicanos e a maioria das denominações protestantes acatam o que ficou decidido nos quatro primeiros Concílios Ecumênicos, no que se refere à natureza de Jesus enquanto a Igreja Ortodoxa acata o que ficou decidido até a sua separação da Igreja Católica, ou seja, os primeiros sete concílios ecumênicos, assim sendo, a posição islâmica em não aceitar ou compreender a natureza divina de Jesus confronta com a absoluta maioria dos cristãos, mas esta é uma questão que trataremos à parte, oportunamente.


À direita, moeda do reinado de Constantino com a inscrição "Comprometido com o invencível sol"

           O que ainda nos move nesta investigação é tentar identificar dentro da história da Igreja Cristã, falhas que tenham dado legalidade espiritual para o surgimento do islamismo. Conforme relatamos nos links citados, ao nosso ver, a primeira atitude que concedeu esta legalidade foi a união da Igreja ao estado romano, na pessoa de Constantino, que apesar de se dizer convertido ao cristianismo, prestava culto ao deus sol. Até então o grande debate da Igreja desde a época dos Apóstolos foi a de dar a Jesus, a definição mais aproximada, que a filosofia e o conhecimento daquela época era capaz e até o ano de 610, quando Maomé inicia a pregação dos versos do Alcorão, a Igreja não fazia uso de imagens, os dogmas marianos, não tinham até então, elevado Maria à condição de intercessora, assim como não havia a canonização de santos, que só começou em 993, com a canonização de Ulrich, bispo de Augsburg, Alemanha. 



Deuses e deusas gregos e romanos substituídos no catolicismo por santos e madonas

           Se até o início do século V não haviam motivos concretos na Igreja Cristã que ensejassem o surgimento do islamismo, a não ser a união com o estado romano, temos de admitir que o mesmo tenha surgido como uma medida cautelar ao que ocorreria futuramente com a Igreja cristã: a sua divisão, o surgimento de dogmas que elevam Maria e outros santos católicos à condição de intercessores, o uso intensivo de imagens, o surgimento do movimento protestante que combatia a idolatria que até hoje estes e os evangélicos combatem; em suma, o islã surgiu como uma nova bandeira na crença no Único Deus, uma bandeira que combateu desde o início a idolatria, assim como hoje os evangélicos combatem a idolatria católica.

       Como já repetimos outras vezes, conhecemos pessoas católicas que possuem uma conduta moral e social irrepreensível, e de igual modo também pudemos testemunhar, na cidade de Anápolis, Brasil, a exemplar conduta da comunidade muçulmana, que se destaca pela forma ordeira e exemplar como se portam; valendo ainda destacar que esta cidade é celeiro de pastores conhecidos no cenário nacional e internacional, além de ter uma comunidade católica romana e ortodoxa bem expressiva, apesar de ter apenas cerca de 400.000 habitantes.
      No terceiro texto desta série deixamos o link Diálogo entre cristãos e islâmicos de uma autoridade muçulmana do Egito, que questiona os motivos para um diálogo com a Igreja Cristã, dizendo não haver fatos que alterem o atual estado destas relações, contudo, temos a dizer, que o motivo desta série de estudos sobre o islamismo é também apresentar aos muçulmanos, que afirmam crer no mesmo Deus de Adão, Noé, Abraão, Moisés, Jesus, etc., que este mesmo Deus tem um projeto em que a maioria das nações islâmicas do Oriente Médio são abrangidas, o qual resulta de seu plano de redenção da espécie humana, que se concretizará com o Juízo Final, o qual ocorrerá após o fim do Reino Milenar de Cristo (Ver link: Vivendo o Reino Milenar de Cristo), que será precedido pela missão das Duas Testemunhas (Link: Quem são as Duas Testemunhas?).
         Um famoso poeta português chamado Fernando Pessoa disse uma frase que pode sintetizar perfeitamente o sentimento de desapego, sensatez, cordialidade, respeito e principalmente fé que será necessária para as lideranças das três grandes religiões monoteístas, cujos fiéis somam mais metade da população do planeta; esta frase é: "Tudo vale a pena, quando a alma não é pequena", em português este verso forma uma rima pobre, contudo o seu significado é infinito, assim como o Deus, que estas três grandes religiões adoram.
          Hoje costumamos chamar os judeus e muçulmanos de primos, mas temos uma firme e sincera esperança de em breve podermos chamá-los de irmãos, filhos de um mesmo Deus, governados pelo Senhor da Terra, o verbo divino encarnado, o ressurreto e eterno Jesus de Nazaré, que aceita de braços abertos todos os que o reconhecem como o Senhor da Terra, ordenado pelo Criador. Que Deus ilumine e abençoe a cada um dos verdadeiros fiéis destas três grandes religiões neste sentido.

              Por Nelsomar Correa em 13.10.2014


Enriqueça sua leitura lendo os outros textos desta série nestes links:


Cristianismo e Islamismo - perspectivas imediatas (Parte I)

Cristianismo e Islamismo - perspectivas imediatas (Parte II)
Cristianismo e Islamismo - perspectivas imediatas (parte III)
Cristianismo e Islamismo - perspectivas imediatas (parte V)
Cristianismo e Islamismo - perspectivas imediatas (parte VI)
Cristianismo e Islamismo - perspectivas imediatas (parte VII)

               

                  

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